Uma praça, uma menina, o chão em curvas, pensamentos densos.
A menina caminha sem rumo, pensando ... Leu outro dia sobre o destino da cultura no país – teve a impressão de que agora todo mundo era artista de alguma coisa.
E ela se interrogava – era artista do quê?
No fundo sua alma sabia, seu corpo informava – A paixão pelos livros, o agarro com as letras – a dedicação aos rabiscos. Mas seguindo pensava, se interrogava, olhando atenta aos outros – O artista é um privilegiado de Deus, escolhido a dedo, com um dom além ... Ou um ser comum, como ela ou o homem que agora lhe servia um açaí, que de repente tinha um despertar para algo e trabalhava nesse sonho até ser reconhecido como artista?
Teve vontade de perguntar ao homem do açaí, se ele era artista, mas conteve-se. Seus pensamentos estavam em processo de discussão – qualquer informação a mais poderia bagunçar-lhe ainda mais o juízo.
Tomava o açaí e pensava. O cantor do momento não tem a voz mais afinada e o livro que está no ranking como o mais vendido, não chega nem perto da qualidade dos bons. Os quadros, as melodias – tudo se perdendo. A criatividade, ousadia, reinvenção do belo – caminham em ordem de busca nas páginas do google.
A menina pensa, repensa, não pensa mais.
Cansa de procurar artistas nas faces alheias. Cansa de tentar se rotular como artista ou pessoa comum. Pensa agora que o homem é livre pra seguir o caminho que lhe aprouver. Se quiser criar, cria. Se quiser copiar, copia. Cabe ao outro, aquele que recebe a informação, escolher se aceita aquele pacote como lixo ou cultura.
E também tem outra coisa. O que pode ser lixo pra mim – pensa ela – pode ser cultura para o outro - Oscila nesse pensamento, argumentando que lixo é lixo e cultura é cultura, mas o açaí acaba e lhe atrapalha na construção do pensamento.
Já passam das 18h e logo a noite vem. A menina artista, pessoa comum da vida cotidiana segue – pensando, resmungando e se questionando sobre arte, cultura, lixo e outros possíveis assuntos para colocar no seu blog.
* Texto de Nina Lemes.
